domingo, 17 de abril de 2011

Eldorado - O Caminho das Lhamas

Prólogo
(Meses atrás, em algum lugar da Floresta Amazônica)



Com o antigo mapa em mãos o velho arqueólogo admirava as ruínas a sua frente. A construção em forma de muro assemelhava-se muito as que ele já vira em ruínas de antigas construções maias e astecas, mas ali na selva brasileira era a primeira vez que isso ocorria. Os relatos de historiadores não mencionavam essa construção em nenhum dos documentos histórico que ele trazia consigo. Mas ele lembrava de algo lido dias atrás num artigo de internet.
    • Senhor! - Era a voz de um de seus ajudantes que soava próximo dali.
    • O que foi? - Indagou ele aproximando-se rapidamente.
    • Veja essa gravura na pedra. É uma lhama! - Afirmou o homem comparando o desenho com a foto de um livro.
    • Sim! - Concordou ele olhando minuciosamente o desenho rupestre.
    • Mas senhor nessa parte da selva os nativos não usavam esse tipo de animal, aliás eles por aqui nem existem.
    • Concordo! - Disse pensativo o arqueólogo com a mão direita tocando o queixo. - Dê-me os documentos dessa bolsa. - Falou ele apontando para a bolsa que o ajudante trazia a tiracolo.
Enquanto o homem abria a bolsa para pegar o papel, ele encontrava outros desenhos com as mesmas semelhanças do primeiro, mas com aspectos e traços que denotavam mais de um grafista.
    • Pronto senhor! Aqui estão. - Disse o ajudante entregando uma pilha de papel amarelado, envolto em cordões.
    • Hum! Como suspeitei! - Falou ele olhando uma impressão mais recente. - São mesmo lhamas. Aqui está a prova. Sabia que encontraríamos estes desenhos por aqui.
Em suas mãos ele tinha um antigo artigo achado na internet que falava de um caminho dentro da floresta. Neste haviam algumas construções onde era possível achar desenhos de lhamas andinas. Com certeza elas estavam diante do caminho das lhamas por eles procurado. Dali para o El Dourado era questão de dias. - Pensou ele.
De repente um estrondo os fez virar-se rapidamente. A enorme pedra rolou bruscamente sobre eles. Os pobres ajudantes não tiveram tempo de reação e foram esmagados. Com uma agilidade ímpar o velho arqueólogo conseguiu esquiva-se para o lado e apenas sua perna esquerda fora atingida.
Rapidamente ele arrastou-se para a mata fechada usando as mãos. Quando contou 20 braçadas para a direita ele parou. Estava perto de algumas enormes árvores. Colocou todos os documentos antigos dentro de sua bolsa. Anotou algo num pedaço de papel e junto com os demais os enterrou no exato local que havia parado e com esforço sobre-humano ele se afastou para outro ponto.
A perna esmagada estava lhe causando tremenda dor e a perda de sangue o mataria em minutos. Ele pensou na carta. Era necessário que ela fosse entregue. Os passos que soavam nas folhas secas do chão indicavam alguém se aproximando.
    • Então você não ouviu nossos conselhos velho teimoso! - Disse a voz aguda do homem a sua frente.
    • Você? - Indagou ele surpreso por ver aquele homem engravatado mais uma vez.
    • Esperava quem? Meu chefe? Ou a própria Rainha? - Falou num tom irônico. - Dê-me os papéis e o deixo viver, velho! A arma estava apontada para sua cabeça. Outros homens já estavam de pé ali perto e o silêncio da mata dizia que aquela era uma situação de muito perigo.
Ele sabia que dali num sairia vivo, a carta que ele deixara com o dono da pensão onde ficara em Boa Vista, deveria ser enviada assim que relatos de sua morte saíssem nos noticiários. Foi esse seu pedido ao homem, que na hora apenas guardou o envelope rindo daquele pedido estranho, feito pelo hóspede que com o qual ele saboreava um de seus vinhos.
    • Fale velho estupido! Não temos tempo a perder aqui nessa selva calorenta e úmida. - Gritou o homem de arma em punho.
Num salto rápido ele jogou-se do chão contra o homem que sem ter tempo de reação apenas puxou o gatilho.
  • Maldito! - Esbravejou ele empurrando o corpo do pobre arqueólogo contra o chão. - Vasculhem tudo com esses homens, busquem por um velho mapa e algumas anotações.
Após alguns instantes um dos homens falou:
    • Senhor nada por aqui! Apenas essas bolsas com pertences e alimentos. Esses papeis de viagens e esta anotação.
Pegando o papel ele observou algo que poderia ajudá-los.
    • Vamos! Peguem os corpo e limpem tudo aqui. Façam como planejamos. - Ordenou ele aos homens em sua volta.
Em minutos eles estavam sendo içados de volta ao silencioso helicóptero que os esperava sobre a densa mata, para em seguida partirem rumo a cidade de Manaus.



Capítulo 1
(Época atual)
Debruçada em sua escrivaninha a pesquisadora num percebeu quando sua filha aproximou-se sorrateiramente e a abraçou por trás.
    • Oi meu amor! Já estar tarde, é hora de dormir. - Disse ela virando e correspondendo o forte abraço.
    • E a senhora não vai dormir mamãe? Sabe que papai sempre reclama porque você fica lendo até altas horas. - Disse a bela menina de pele morena e cabelos pretos ondulados.
    • Já sim minha princesa. Pode ir que já vou dar-lhe um beijo de boa noite bem gostoso. Prometo!
Enquanto a filha saia da sala, ela mais uma vez pegou nas mãos aquela estranha carta que recebera de um desconhecido naquela manhã.
A confirmação da morte do remetendo havia sido verificada por ela na internet. O homem havia sido encontrado morto nos arredores da cidade de Manaus com um tiro no peito há alguns meses, sem seus pertences e sem identificação. A polícia falava em latrocínio. A imprensa seguira a mesma linha. Mas porque alguém que ela não conhecia, a enviaria uma carta retroativa e ainda por cima com informações tão estranhas. Depois descobriu-se tratar de um arqueólogo inglês pouco conhecido no Brasil. Viera em viagem de turismo para a Amazônia, segundo diziam seus compatriotas e o roteiro da agência de turismo inglesa. A família não fora localizada e ninguém reclamou o corpo, que acabou sendo enviado para a Inglaterra e por lá cremado numa cerimônia simples. Algo que lhe causou estranheza foi perceber que o próprio governo inglês se encarregou de tudo. Mas maior mistério era o que continha a carta. Nada fazia sentido para ela. Apesar de conhecer aquela história, ela nunca ouvira falar do que o arqueólogo morto descrevia no curto e misterioso texto. Pela manhã ela iria se aprofundar um pouco mais no assunto, agora era hora de ir deitar-se e dar aquele beijo prometido em sua filha. Antes porém escaneou a carta e salvando-a em seu celular a enviou via MMS para o marido.



Capítulo 2
Samuel Azon estava naquele instante tentando em vão conseguir ligar para sua casa em Manaus.
    • Droga de celular – Esbravejou ele. - Nunca pegam quando precisamos.
    • Calma Samuel, pela manhã iremos sair desse braço de rio e com certeza pegará. - Falou calmamente o amigo Cláudio Teles.
    • Assim espero, tem dois dias que não falo com elas.
    • Elas estão bem. Você sabe que Ângela é uma ótima mãe. E trabalhando em casa fica ainda mais tempo com Raquel; seu pai coruja. - Falou Teles sorrindo do amigo.
    • Se você tivesse sido pai saberia o que estou sentindo amigo. - Disse ele respondendo a provocação.
    • Bem vamos mudar de assunto e embalar essas últimas peças. Não quero que nenhuma se quebre no caminho.
O arqueólogo Cláudio Teles havia com muito custo convencido Samuel Azon a trabalhar com ele no projeto de recuperação de cerâmicas Tapajoaras. Suas constantes viagens para o interior do Pará e Amazonas eram algo previsto no projeto em parceria com o Museu Emílio Goeldi. Teles estava lutando pela construção de um museu nos arredores de Santarém do Pará, mas havia pouco interesse ainda por parte do governo e entidades governamentais. Maio interesse tinham os estrangeiros, mas isso ele via com receio, pois sabia que muito das cerâmicas ali resgatadas estavam em museus americanos e europeus ou com colecionadores, e longe do grande público nacional.
O comércio ilegal era outro problema grave por eles enfrentado. Muito saia dali na bolsa de turistas mal intencionados, que se aproveitavam da fragilidade da fiscalização. Não raras vezes tiveram que literalmente tomar peças de pessoas que pretendiam deixar o país com as mesmas. Isso era algo bastante comum. Muitos sítios arqueológicos ainda eram inexplorados e muitas peças afloravam na terra em muitos rincões do baixo Rio Tapajós.
Eles recolhiam as peças, levavam para Manaus e lá a pesquisadora Ângela Cunhapora catalogava tudo, que depois era enviado para os Museus Amazônicos. Algumas peças ficavam no museu particular deles até serem totalmente identificadas e naturalizadas. Muitas eram tão raras que deveriam ter mais de 5 mil anos.
As pessoas da região não tinham o hábito de, ao encontrarem uma peça arqueológica, guardá-la e entregar as pessoas certas. A falta de pesquisadores nacionais era outro grave problema da região. Os ribeirinhos preferiam vender essas peças aos turistas, hippies, etc. Era comum eles encontrarem peças raríssimas em cordões e bugigangas hippies. Alguns agricultores diziam que preferiam jogá-las fora quando algo encontravam ou até mesmo destruir. Uma perca lastimável, sabiam eles.
    • Samuel, terminei essas aqui! E você ainda choramingando ou me ajudando por ai? - Perguntou Teles com seu sempre farto sorriso nos lábios.
    • Já terminei e estou com a vara de pescar em mãos. Senão, o que teremos para o café da manhã? Aproveite e abra uma dessa garrafas de vinho que você esconde por ai.
Samuel referia-se as garrafas de vinho que Cláudio Teles sempre trazia consigo na mini adega do barco que eles usavam.
    • Certo amigo! Vinho e depois cama. Ah! E trate de pescar algo grande, essas piabas que você anda pegando não servem nem para tira-gosto. - O gesto com a mão indicava o tamanho que ele se referia.
    • Tá certo! Sirva minha taça de vinho e pode ir deitar-se. Amanhã cedo você terá um belo peixe para saborear no café.
Era comum as pessoas da Amazônia comerem peixe logo cedo. Algo estranho para muitos, mas muito visto pelos interiores da região. Eles já haviam adquirido esse hábito. Enquanto saboreava sem vinho, o pensamento de Samuel estava voltados para sua mulher e filha. A vara de pescar em uma das mãos era sua companhia, junto com o reflexo das estrelas nas águas límpidas do rio.



Capítulo 3
(Royal Geographical Society, Inglaterra)
    • Senhores! O que temos em mãos é a continuidade dos fatos ocorridos em 1987. Não poderemos deixar que essa história saia de nosso controle. - Falava o engravatado homem aos poucos membros da sociedade que estavam na sala de reunião. - Nosso objetivo é encontrar esse novo local e resgatar tudo que possa nos resguardar. Já temos pessoas no Brasil que nos ajudarão mais uma vez, assim cabe ao nosso time executar tudo na maior discrição. E mais importante, essa missão é extraoficial. - Finalizou ele enquanto mostrava alguns slides com fotos de satélites e mapas da região de Roraima, estado do norte brasileiro.
A sede da Royal Geographical Society – Sociedade Geográfica Real – ficava em Londres, fundada em 1830, era uma entidade poderosa no mundo da geografia mundial.